segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Manifesto contra a violência

O texto que se segue foi escrito em abril de 2011, após a chacina ocorrida na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, mas infelizmente me parece bem presente (vide acontecimentos como a morte recente de seis adolescentes também no Rio, a operação da ROTA em São Paulo, que apesar de resultar em nove mortes foi tratada de forma tranquila pelo governador estadual, o estupro coletivo ocorrido em fevereiro deste ano aqui na Paraíba, a ferocidade dos assassinatos e tentativas à luz do dia na grande João Pessoa, dentre outros absurdos). Difícil não ser afetado por essa saraivada de violência ou ficar calado, impassível perante os fatos. Resolvi reeditar esta carta, escrita e distribuída à época ao povo, porque  a reflexão sobre a violência deve sempre estar à frente desta e não pode diminuir nem ser esquecida, sob pena de instituir-se um caos!

Carta aberta ao povo da Praça

       Nesta quinta-feira despedi-me dos (as) colegas de trabalho sob a promessa de levar algo alegre e bacana para nosso mural (de fato eu buscava articular umas palavras que abrissem com alegria o fim de semana), mas a notícia desta tragédia no Rio de Janeiro me abalou bastante - um jovem de 23 anos invadiu uma escola e atirou à queima-roupa em diversas crianças. Parecia um documentário sobre essas chacinas que viraram moda no exterior, a versão brasileira de um triste acontecimento.
       Os diversos noticiários (regionais e nacionais) só veiculavam este episódio e em todos eles pessoas estarrecidas tentavam entender o que se passara na mente daquele rapaz. Familiares das vítimas, policiais, repórteres, vizinhos do jovem Wellington cogitavam mil razões. Os veículos de comunicação, lógico, trataram de trazer diversas hipóteses e depoimentos - inclusive de um irmão do acusado - para explicar o caso. Uma enxurrada de luzes sobre um fato que já já será esquecido quando outro mais ou até menos trágico aparecer para o ibope!
       Tanta euforia me fez pensar no porquê a violência, o desengano, o desamor tem tanto espaço no nosso dia a dia. Claro que esse caso não é banal e devemos nos indignar, mas por quê não falar também de amor, afeto, de apoio social?! Até quando vamos conviver com pequenas, porém frequentes histórias de violência urbana, social e afetiva dessa forma tão superficial? Até quando, vamos continuar "respeitando" minutos, horas, dias de silêncio pelos nossos mortos, trancafiando-nos em nossas casas e apartamentos, em nossos carros fechados nos sinais, em nossos passos apressados nas ruas quando alguém "aos nossos olhos estranho" se aproxima? Ouvir a violência, ver a violência, falar da violência e cruzar os braços também são formas de reforçá-la!
       Acredito piamente que somos seres sociais e solidários por natureza! Acredito que a vida possui um mecanismo de retroalimentação, através do qual tudo que jogamos no mundo uma hora há de voltar, logo, falar de companheirismo, de afeto, de carinho, de amor... amar... gera amor novamente!
       Sejamos otimistas, não o otimismo ingênuo de que tudo são flores ou que o bem cairá do céu, não! E sim o otimismo real, que reconhece as dificuldades, dá de cara com elas e as enfrenta de peito aberto! Fácil não é, quem disse que seria? Mas respeitar um ao outro, acreditar uns nos outros, lutar para sermos melhores, reconhecer e aceitar aquilo e aquele que é diferente de nós também pode nos fazer felizes. Que o nosso "simples" Bom Dia não seja apenas formalidade ou cumprimento, mas um desejo verdadeiro de que o outro tenha, de fato, um Bom Dia!
       Nos momentos de episódios tão carregados como o que motivou esta carta, não deixemos de crer que na nossa vida cabe o outro e que na vida do outro a gente também cabe. Chega de tristeza! Exaltemos o amor e a felicidade, lutemos com garra pela vida... vivida. Estejamos atentos ao humano que existe em nós e ao nosso lado.
       Se é para chorar que seja de alegria, se é para emudecer que seja de beleza. Viva a vida!!!



Carlitos Alves, 07/08 de abril de 2011
 
 
 
* Em 20 de junho postei uns versos chamados Ciranda de Paz, fruto dessa inquietação antiga com o crescimento da violência e a forma como lidamos com ela. Confiram lá e passem adiante!

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